Papudiskina em 12/03/2009

O clérigo contra o povo
Durante muito tempo a religião teve forte influência no parlamento, no governo e na sociedade como um todo, especialmente a Igreja Católica que, de forma emblemática, é a representação moderna do Império Romano. Não resta dúvida de que a fé católica ainda "move montanhas" e tem uma força muito grande na maioria dos países ocidentais. Só que ao longo dos últimos cinco séculos a instituição vem perdendo prestígio, não por culpa dos fiéis, que continuam fervorosos e ardentes defensores da Igreja, mas por ações incoerentes do clérigo, seus líderes. Essa decisão de excomungar médicos e a mãe da menina submetida a um aborto no Pernambuco repercutiu de forma negativa em vários círculos da política, da imprensa e até mesmo entre teólogos católicos progressistas, aqueles que não compactuam muito com o centralismo papal e muito menos com a rígida ortodoxia da cúpula. Como sou curioso, fiz uma atenta pesquisa na Internet, esmiuçando sites e blogs e notei que, mesmo entre católicos, cerca de 90% dos fiéis desaprovam com veemência essa decisão do Arcebispo de Olinda e Recife, Dom José Cardoso Sobrinho. Mesmo os 10% que aprovam sua decisão, fazem sérias ressalvas. Um fato interessante é que o assunto não se restringiu a nações católicas e repercutiu inclusive no mundo islâmico. Um exemplo disso foi o destaque dado ao caso em um jornal do distante e remoto Paquistão, na Ásia Central, mais precisamente no jornal Karachi News. O fato também repercutiu em nações de predominância evangélica (protestante) como Estados Unidos, Inglaterra e Canadá.
No Brasil o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, considerou radical e inadequada a decisão do arcebispo. “Fiquei impactado pelos dois eventos: a agressão contra a menina e a posição desse bispo que é realmente é lamentável”, disse o ministro.
O aborto da garota também continua a repercutir entre representantes da Igreja Católica, médicos e sociedade civil. O diretor da maternidade pública onde foi feita a interrupção da gravidez voltou a defender a necessidade do procedimento. Segundo Sérgio Cabral, a menina que tem apenas 33 quilos e 1,36 metro de altura, não tem o aparelho reprodutor totalmente formado.
“A gravidez de gêmeos com dois ou mais fetos já é considerada de alto risco. Imagine você ter uma gravidez levada adiante em uma criança de apenas nove anos”, defendeu o médico Sérgio Cabral.
Aqui em Cacoal o fato também repercutiu de forma intensa na imprensa local. Alguns sites que dispõem de espaços para comentário dos leitores, recebeu dezenas de postagens tanto de defensores dos médicos, quanto de defensores do arcebispo. Eu achei especialmente interessante o tópico em que um católico de nossa cidade comentou: "essa excomunhão é uma decisão interna da Igreja, que não interessa a ninguém". Em resposta, outro leitor, comentou: "a excomunhão dessa menina transcende as fronteiras da Igreja uma vez que se constitui um ato que se contrapõe à ciência e ao que prega a própria Igreja: "a defesa da vida". Então, como justificar esse radicalismo que expõe uma menina de 09 anos a levar avante uma gravidez quando se sabe dos riscos reais dela vir a óbito e ainda sem qualquer garantia de que os dois bebês em seu ventre iriam sobreviver a essa gestação completamente atípica e contrária à própria biologia?".

Reação em BLOG
Também achei interessante comentário que vi em determinado blog, cujo teor gostaria de compartilhar com quem ainda não teve oportunidade de lê-lo. Aliás, esse conteúdo também foi postado em um fórum cacoalense no endereço http://is.gd/mdcc
Veja, o texto:
Primeiro vem a notícia de que uma CRIANÇA de apenas nove anos está grávida de gêmeos do padrasto. Isso já choca, tanto pelo horror do crime quanto ao fato de uma criança já ovular. Claro, evidente que a única atitude para salvar a vida desta criança seria o aborto. Isso é tão óbvio, não tem outra solução. Como uma menina de nove anos poderia manter uma gravidez? Não falo nem na falta de estrutura emocional, econômica, social, etc, penso apenas na questão física, biológica. A menina tem nove anos, NOVE! Não é preciso ser médico para olhar uma criança, visivelmente desnutrida e saber que seria uma gravidez de altíssimo risco, ou seja, o aborto seria a única solução.
Porém, claro, no outro dia chegam os “enviados” de Dels, aqueles que se denominam representantes do Todo-poderoso, que interpretam os ensinamentos de um livro escrito por homens, “passado a limpo” em vários concílios por uma religião que queimava pessoas e dão a sentença: essa menina não pode abortar. Claro que ela e seus responsáveis falaram para o enviado o mesmo que qualquer pessoa mentalmente sã falaria nessas circunstâncias: converse com minha mãe!
Feito o aborto, o arcebispo de Olinda e Recife subiu nas tamancas. Ameaçou processar mãe e o diabo por terem consentido o aborto. Não satisfeito, ele excomungou o médico e a mãe da menina. Excomungou! Eu pensava que isso não existisse mais, porque a última vez que ouvi essa palavra, eu devia ter uns vinte anos a menos e foi dito pela minha vó: se você não parar de bater a bola na parede eu vou te excomungar!
Agora, vamos questionar as atitudes do arcebispo, figura mais alta e representativa do Vaticano nas terras pernambucanas. Eu queria saber quantos padres pedófilos ele já excomungou? Gostaria de saber quantos políticos que roubam aquele estado, que o faz ter o belo título de capital mais violenta do país, ele excomungou? O padrasto foi excomungado? Ele excomungou os assassinos do MST que recentemente matou os seguranças de duas fazendas em Pernambuco? Não!
Agora vejam o absurdo e hipocrisia da Igreja católica! Apesar de Hebe Camargo e várias outras personalidades, segundo a veja, fizeram aborto e confessaram. Mesmo assim não foram excomungadas. Bom, com celebridades eles toleram. São esses homens os representantes de Deus na terra? Tenhamos paciência!!!!

Fim do Horário Corrido
Outro assunto que volta e meia é bastante abordado nos sites de Cacoal é o Horário Corrido que, em minha opinião, é uma forma dos revoltados com a política disparar também suas metralhadoras giratórias contra os servidores públicos. (O pior de tudo isso é que o fato só veio a tona após o Partido dos Trabalhadores vencer as eleições em Cacoal. Um contra-senso se levarmos em conta que o fundamento básico do PT é defender a classe trabalhadora e jamais prejudicá-la como é a idéia de alguns fundamentalistas do partido em Cacoal).
Eu já disse aqui a minha opinião e vou repeti-la, embora respeitando as opiniões divergentes. O Horário Corrido deve não apenas ser mantido na iniciativa pública como estendido a toda a iniciativa privada. Alguns empresários, alarmistas, acham que isso iria causar-lhes sérios prejuízos. Mas isso não é verdade. Pelo contrário, menos carga horária significa trabalho desempenhado com mais vigor físico e mais tempo para o trabalhador se preparar e fundamentar suas técnicas de produção.
No século XIX, quando o mundo começou a se industrializar para valer, os operários trabalhavam 16 a 18 horas por dia. As pessoas eram praticamente escravas do trabalho e por conta dessa exploração bestial muitos morriam prensados em máquinas pois o excesso de trabalho lhes tirava a concentração e as tornavam vulneráveis a acidentes. Quando alguém começou a propor uma carga horária menor, a classe empresarial e os industriários reagiram com vigor, com os mesmos argumentos desses que hoje são contra o horário corrido. Diziam que trabalho não mata ninguém, mas, pelo contrário, dava dignidade ao ser humano. Só se esqueciam de avisar de dava dignidade aos donos do capital. Afinal, trabalhando 16 horas por dia, quem poderia ter dignidade? Ainda mais com o salário que recebiam!
Embora ainda seja visto com desconfiança, o Horário Corrido certamente irá predominar nos próximos anos, visto que hoje em dia as novas ferramentas tecnológicas necessitam de trabalhadores altamente especializados. O horário corrido é muito mais democrático por dar às pessoas condições mais humanas e espaço também para o estudo (qualificação profissional e técnica), o lazer e a convivência familiar. Seis horas bem trabalhadas é o bastante. Além disso, se o horário corrido na iniciativa privada for bem regulamentado e tiver ampla fiscalização, vai ampliar a oferta de emprego. Veja o caso de bares, lanchonetes e supermercados. Nesses estabelecimentos é impossível alguém cumprir uma carga horária de 08 horas, pois essas empresas abrem suas portas às sete horas da manhã e só fecham as portas às 20 ou 22 horas, em muitos casos. Geralmente, nesses casos, há patrões que manipulam os seus trabalhadores e nunca pagam hora extra. Criam, no máximo, um sistema de banco de horas que raramente atende aos interesses da classe trabalhadora. O empregado até acumula horas, no papel, mas na prática quase sempre lhe é negado o gozo dessas horas acumulas. Está certo que o trabalho dignifica o ser humano, mas os estudos, a capacitação profissional e o lazer também.
Quanto a essa idéia que considero bizarra e retrógrada de impor o fim do horário corrido no serviço público, eu penso que a população tem coisas mais importantes a se preocupar como o fim da corrupção e o combate ao desperdício no serviço público. Para resumir: eu penso que seis horas corridas são bem mais produtivas do que dois horários intercalados de 04 horas. Aos que defendem o fim do horário corrido, lembrem-se de uma coisa: eu conheço casos de trabalhadores que geram lucro per capita de 10 mil reais mensais e ficam com apenas 500 reais para alimentar suas famílias. Isto significa que os 9.500 reais restantes ficam com o patrão. E isso o que se refere a apenas um de seus trabalhadores. Os patrões reclamam sempre do custo elevado do emprego no Brasil e se esquecem de fazer comparar a sua condição de vida com a condição de vida de quem trabalha para lhe dar uma vida digna. Está certo que não existe empregos e renda sem o capital, mas também é impossível o capital render alguma coisa sem a junção com a mão de obra. O capital depende da mão de obra e o empregado depende da força empreendedora de quem tem o capital. Mas a partilha deveria ser mais justa e humana!

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Clarim da Amazônia