Papudiskina em 05/03/2009

"ABORTO e os medievais do terceiro milênio"Nesta edição vou abordar um tema polêmico, mas com a finalidade de fomentar o debate e esperar que cada um tire suas próprias conclusões, embora, como ser humano, é possível que eu também emita a minha própria opinião, mas sem a pretensão de que ela prevaleça. Sei que muitos concordarão comigo e sei que outros irão discordar. Só espero que tudo transcorra sob o manto do ideal de liberdade e respeito às idéias e a diversidade do pensamento humano.
Na quarta-feira à noite eu assistia ao Jornal da Globo e vi uma notícia especialmente polêmica e que me causou revolta. Foi o fato de um arcebispo católico excomungar médicos e familiares de uma menina de 09 anos, que por questão de saúde pública, consentiram com o aborto induzido. A decisão de dom José Cardoso Sobrinho foi impactante e causou protestos em todo o país. Ele optou por excomungar os envolvidos no aborto, direta ou indiretamente, e, ao ser informado que a lei brasileira permite o aborto até a 20ª semana em casos de estupro e quando a mãe corre risco de morte, ele defendeu-se: "A lei de Deus se sobrepõe à lei dos homens".
Fiquei revoltado com essa idéia do religioso, pois ao defender o aborto a qualquer custo ele também defende que uma criança de nove anos corra o risco de morte apenas com o intuito de salvaguardar a ortodoxia da fé católica. É como se estivéssemos voltando a Idade Média quando qualquer pessoa que discordasse da Igreja seria submetida à fogueira, inapelavelmente, em uma morte brutal. Ora, a Igreja Católica já se redimiu e pediu perdão a Deus e a humanidade pelas barbaridades que cometeu, mas esse sacerdote está na contramão de homens iluminados como João XXIII e João Paulo II, que encantaram o mundo ao dar a Igreja novas luzes e permitir uma revolução ética do cristianismo.
Como cristão evangélico progressista sou totalmente a favor de aborto em casos como esse ocorrido no pernambuco, embora, no âmago, sou contrário ao aborto indiscriminado. Meus Deus, nesse caso específico a vítima é apenas uma menina de 09 anos violentada por um padastro tarado! Como a Igreja pode ser tão reacionária e insensível ao drama de uma criança carregando gêmeos em seu ventre, fruto de uma relação para a qual ela não estava preparada? Se a Igreja é contra o aborto, sob o argumento de ser a favor da vida, não parece lógico trocar a vida de uma menina de 09 anos pela (im)provável sobrevida de um feto com algumas semanas! Supondo-se que a menina pudesse mesmo, milagrosamente, conceber essas crianças e sobreviver, ainda assim cabe uma pergunta: e o custo disso? Como seria a vida dessa criança? O que esses médicos fizeram uma escolha difícil, é verdade, mas eles tinham de escolher entre a vida de uma criança de 09 anos ou interromper uma vida em sua pré-concepção
Com relação à justificativa de que a Lei de Deus se sobrepõe a lei dos homens, eu concordo que a Bíblia é a palavra de Deus se observarmos que todos que a escreveram estavam inspirados em fazer o bem. Mas é claro que nem tudo o que escreveram reflete a vontade de Deus para com a humanidade. Nessa mesma Bíblia, que dizemos inspirada por Deus, foi permitido o privilégio de classes e o Deus da Bíblia, na visão desses escribas, sempre foi mais tolerante com os poderosos (pelo menos no velho Testamento) do que com os pobres. Era permitida a escravidão de seres humanos (Abraão teve vários escravos); era permitido que as mulheres estivessem caladas nas sinagogas; era permitido que doentes com hanseníase fossem levados para fora da cidade e expostos à própria sorte para morrer à mingua; foi permitido a Salomão ter centenas de mulheres e concubinas. Claro que também essa mesma Bíblia foi a precursora de uma revolução silenciosa em favor da mulher, por exemplo, quando valoriza as qualidades de Mírian, Débora, Edite, Judite, Maria, etc. Mas eu respeito a Bíblia como uma fonte inspiradora, mas não que ela seja totalmente a Palavra de Deus, emanada do próprio Deus, como querem nos fazer crer. Querem fazer-nos acreditar que, mesmo com todas as contradições e imperfeições nela contida, Deus ditou cada uma das palavras que estão em seus milhares de capítulos e versículos. E o que dizer da discórdia permanente entre pentecostais e não pentecostais, sabatistas e dominguistas, os que usam o véu e os que não usam; os que comem carne de porco e os que não comem? Essas divergências e contradições são uma pista: a Bíblia foi escrita por mãos humanas e reflete o pensamento e a lógica humana de cada época.

Calamidade Pública
Algumas pessoas não concordam com o fato de o Município de Cacoal ter decretado estado de Calamidade Pública por duas ou três vezes este ano e, em parte, eu compartilho desse ponto de vista. Calamidade pública se aplica em casos extremos, como o advento de terremoto, grandes enchentes com deslizamento de terras, e outros fatores naturais que resultem na perda de vidas humanas, sempre que o poder público mostrar-se incapaz - face às circunstâncias - de gerenciar a grave crise humanitária decorrente desses imprevistos. Não me parece ser o caso de Cacoal. Eu concordo que algumas casas foram inundadas porque foram construídas em áreas alagadiças, mas o fato em si não era nada imprevisível. Pelo contrário, quem construiu edificações nessas áreas e quem as permitiu - por omissão, principalmente - sabia - ou deveria saber - os riscos que estavam correndo. O que precisamos é de uma política habitacional justa, eficiente e sobretudo que coíba o golpe de esperteza de alguns atores sempre presentes em praticamente todas as "invasões" de terrenos públicos ou particulares, principalmente em período eleitoral. Eu tenho quase 45 anos, nasci em um lar pobre, mas meus pais nunca precisarem invadir terra para sobrevivermos, embora não tivéssemos nosso pedacinho de chão. Aceitávamos resignado a tese de que deveríamos plantar em terras alheias, como meeiros, até que conseguimos juntar algum dinheiro para comprar a nossa própria terra. O direito à terra é legítimo, assim como à habitação, mas aqueles que não podem comprar devem cobrar do poder público formas de financiamentos subsidiados e prazo dilatado, mas invadir terras alheias, por mais que não concordemos com o modelo vigente de partilha das riquezas que Deus nos proporcionou, me parece algo inconcebível.
Os sem-terra e sem-teto têm meu apoio quando usam o poder de persuasão através de manifestações pacíficas, usam o lobby legítimo, mas sempre que usam de violência para conseguir o que querem não terão o meu apoio. Conquistar um pedaço de chão para plantar ou edificar uma casa sob o uso de violência física ou outras formas de coação é uma forma indigna de se obter algum bem. Então, amigos, a calamidade pública que vimos em Cacoal algumas vezes foram as invasões de terras públicas e a intensa exploração da classe política que viram nesses atos uma forma fácil de obter votos. Estou falando dos candidatos a vereadores que se elegeram com votos do bairro Josino Brito e de outros bairros próximos. Só para finalizar esse tópico, vou reproduzir uma parte de um texto que vi publicado pelo Zé Maria, em mural de seu site, onde ele próprio, se não me falha a memória, alerta para o fato de existirem na cidade vários "caçadores de enchentes". Isso é verdade! Naquele episódio em que a prefeitura retirou ribeirinhos nos últimos anos para levá-los ao Jardim Limoeiro e arredores, testemunhei no dia seguinte à derrubada de edificações às margens do córrego o trabalho frenético de outras pessoas para construir novo barraco no local. Curioso, quis saber de um deles se não temiam uma reprimenda da ação social, e me disseram: "estamos aqui porque sabemos que mais tarde vão nos tirar daqui e ganharemos a nossa casa própria". Não preciso comentar mais nada, não é?

SAAE
O Serviço Autônomo de Água e Esgotos de Cacoal, agora sob a direção de José Pereira das Neves e Jonadabe da Silva Lima, estão implantando algumas medidas para melhorar o atendimento ao público e ao mesmo tempo incentivam a população a adotar algumas posturas importantes para defender seus direitos: "sempre que julgarem que a fatura veio com preço elevado, nunca pensar no pior, mas ter calma e saber que medidas simples ajudam a sanar os problemas. Primeiro, antes de qualquer coisa, antes mesmo de ir ao SAAE, é importante ir até o Hidrômetro (popularmente conhecido como relógio) e anotar os números e data em que se está fazendo a leitura. Também deve-se tomar algumas medidas para ver se não está havendo vazamento (nem sempre visíveis) e também é importante ligar antes para o setor de contas no telefone 3441-3171 para evitar enfrentar filas. As vezes o valor exorbitante é fruto de uma leitura equivocada por parte dos leituristas (que são pessoas como nós, sujeitas a equívocos) e pode ser facilmente corrigido. Em poucos dias o site www.saaecacoal.com.br estará no ar com dicas importantes sobre o assunto. A população também pode consultar o www.portalcacoal.com.br onde existe um tópico dedicado exclusivamente ao SAAE. Conhecer os nossos direitos e exercê-los eficazmente é sempre mais fácil com o diálogo do que com a precipitação".

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Clarim da Amazônia