Papudiskina - Edição de 21 de abril de 2008

Semana movimentada em Cacoal
O clima anda tenso em Cacoal e os comentários de bastidores falam em reforma administrativa no Poder Executivo. Dizem que alguns servidores públicos que detém cargos comissionados poderão ser demitidos nos próximos dias por conta de não se ajustarem às metas pretendidas pelo prefeito Francesco Vialetto (PT). Como sempre, entre os vereadores, existem os mais exaltados que não perdem tempo em cobrar maior rapidez na solução de problemas que afligem a comunidade. Os parlamentares têm o direito de cobrar melhorias para a cidade e aqueles que fazem da atividade legislativa um instrumento a serviço do povo merecem todo o nosso respaldo. O que não podemos concordar, no entanto, são com aqueles que fazem de sua atividade um trampolim para a defesa de seus interesses particulares. Só que o povo sabe exatamente quem está na política apenas para se dar bem na vida. Infelizmente saber quem são os políticos sem o menor escrúpulo não é suficiente para depurarmos a política em nosso país. Eleições vão e eleições vêm, mas as velhas raposas continuam a dar as cartas. Não estou me referindo ao caso de Cacoal, naturalmente, onde temos alguns políticos realmente preocupados com a situação do município. Mas a minha revolta maior são com alguns deputados estaduais, deputados federais e senadores por Rondônia que têm feito muito pouco por Cacoal. Alguns vêm aqui apenas em época de campanha, alavancam votos que deveriam ser dados a quem mora aqui e só lembram de retornar à cidade em época de campanha.

Sem-Teto
Nesta semana também houve intensos debates sobre o despejo de uma família que desde o ano passado estava assentada em loteamento invadido e no qual haviam mais 165 famílias. A secretária de Ação Social e Trabalho, Bella Borghi, informou, em nota à imprensa, que todos os esforços foram feitos, mas a família em questão não aceitou transferir-se do local como as demais famílias que haviam feito um acordo com a Prefeitura. Além disso, conta, a família ora despejada nem era do município de Cacoal. Veio de fora exclusivamente para construir uma casa em alvenaria em área invadida. Sabemos que a falta de moradias acontece em todo o país e antigamente as pessoas, quando não podiam comprar um terreno para construir sua casa, aceitavam com resignação pagar aluguel. Mas ultimamente, com o incentivo de políticos inconseqüentes e irresponsáveis, invasões de terras, em áreas públicas, vem se tornando uma prática recorrente. Deveriam tais políticos, entretanto, atentarem para o fato de que se a lei for cumprida com o devido rigor, área pública jamais poderia ser desapropriada para benefícios de terceiros, a não ser que houvesse um projeto de lei bem fundamentado e aprovado pela própria Câmara Municipal. Como diz o próprio nome, o que é público só pode ser utilizado para atender interesses da comunidade.
Isto posto, sou de opinião de que, havendo invasões, a Justiça deveria ser rigorosa e agir com celeridade no cumprimento a ordem de despejo até para desencorajar novas invasões. O direito fundamental das pessoas a uma moradia digna não deve servir como argumentos ou pretextos para invasões.
Defendo políticas públicas bem fundamentadas para promover a inclusão social das famílias brasileiras, com programas de geração de emprego e renda e respeito a dor daqueles que não têm onde morar. Acho que as pessoas que não têm emprego e nem onde morar devem procurar organizar-se e cobrar da classe política que dêem maior respaldo à sua causa. Mas essa pressão para reivindicar direitos deve ser pacifica, ordeira e respeitando a propriedade privada e as áreas públicas. Acampamentos provisórios, em lona, com o fito de sensibilizar a comunidade e a classe política para a causa é uma forma de persuasão eficaz, mas não deve passar disso. Ocupação permanente, ao meu ver, constitui-se crime. Mas eu não culpo essa gente simples e sim aos políticos que incentivam as invasões em todos os anos eleitorais e depois, quando há uma ordem de despejo, agem com demagogia e hipocrisia. Os mesmos políticos que demonstram sensibilidade com os que estão sob ordem de despejo mudariam de opinião rapidamente se as áreas invadidas pertencessem a eles ou às suas famílias. É o que penso!

Jeito velho de fazer política
Quando elegemos um novo prefeito, novos vereadores, sempre nos deparamos com belas propagandas onde o que os candidatos enfatizam é que vão inaugurar um novo jeito de fazer política. Prometem trabalho honesto, ações concretas em favor da coletividade e uma série de outras atitudes que dão aos eleitores novas perspectivas. Mas quando assumem a política, muitos se esquecem desses discursos. Mas se é grave a omissão de políticos face aos compromissos públicos assumidos, mais grave ainda é a falta de responsabilidade com a ética, a moral e o interesse público. Por que estou dizendo isso? Fiz esse preâmbulo para justificar a minha revolta com alguns vereadores (digo alguns porque não saberia informar se os que se enquadram em minhas suspeitas são dois ou três vereadores de Cacoal).
Vamos aos fatos: esta semana, conversando com servidores do SAAE, fui informado de que alguns vereadores estão fazem pressão nos diretores para que aceitem o calote de devedores contumazes simplesmente porque tais pessoas foram seus eleitores. Esses funcionários do SAAE estão desolados e revoltados. Eles não aceitam que haja ingerência política para beneficiar uns poucos, enquanto a maioria dos clientes da autarquia paga suas contas e mesmo quando em dificuldades recorre ao órgão para negociar suas dívidas. O que mais revolta, afirmam, é que poucas empresas no Brasil são tão flexíveis em negociar. O SAAE tem sido uma mãe, mas ainda assim, a autarquia depende de arrecadação para manter-se em funcionamento.
Eu, particularmente, fui informado até do nome dos tais vereadores que fazem pressão, mas não é meu interesse prejudicar ninguém politicamente, mas apenas alerta-los de que defender o interesse público significa agir com senso de justiça e não com a desfaçatez de premiar os maus, desde que tais pessoas sejam suas amigas ou cabos eleitorais, e prejudicar as pessoas de bem que pagam suas contas em dia.

Problemas no SAAE
O SAAE, este ano, está vivendo umas das piores crises de sua história, mas os seus diretores estão empenhados em resolver os problemas. Por isso ficamos triste ao vermos políticos que se utilizam desse mau momento que autarquia está enfrentando para fazer populismo e cair na graça do povo. Ora, é justo que os vereadores cobrem eficiência do SAAE, exijam explicações da diretoria e sejam constantes em suas investidas para que o povo seja bem atendido. Mas o que não se pode admitir são essas intervenções mesquinhas, eleitoreiras e que, acima de tudo, são próprias de quem não tem respeito pela instituição pública.
Alguns vereadores são empresários e sabem muito bem que a ética empresarial impõe aos funcionários o dever de respeitar o consumidor, mas sem abrir mão de defender a empresa e velar pelo seu bom nome. Assim também entendo que vereadores devem conciliar o seu dever pela defesa da população, mas isso não lhes dá o direito de denegrir a imagem da grande empresa para a qual trabalham: o Município e suas instituições. Ah, esqueci de dizer: os funcionários do SAAE me informaram que agora a coisa mudou e pra muito melhor. Vereadores que foram lá este ano interceder por compadres e cabos eleitorais não conseguiram impor suas vontades. Pelo contrário, todos tiveram seus pedidos negados. O SAAE, conforme me disseram, vem agindo com muita responsabilidade e sensibilidade. Algumas contas que muitos deixavam acumular justamente pelo comodismo de que podiam contar com a intervenção ilegal de políticos, agora estão sendo parceladas em até 12 vezes e, em alguns casos, até em mais vezes quando o valor da parcela superar a capacidade do cliente em honrar seus compromissos. Em síntese, o SAAE é mesmo uma mãe, mas uma mãe que não vai aceitar que gente descomprometida com a harmonia pública lhe prejudique em suas relações harmoniosas e coerentes com a sua clientela.

* Daniel Oliveira da Paixão é jornalista e atua em Rondônia desde 1985, com passagens por jornais de Ariquemes, Pimenta Bueno e Cacoal. Também atuou em Taubaté (SP) e Vitória (ES)

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More

 
Clarim da Amazônia