Campanha em favor de nosso dinheiro

Campanha em favor de nosso dinheiro

O governo brasileiro, através do banco central, quer incentivar as pessoas a cuidar melhor do nosso dinheiro e todos nós devemos realmente demonstrar um pouco mais de carinho, apesar de que o dinheiro é um filho ingrato e não tem o menor apego às pessoas que cuidam dele. Passa de mão em mão e, em muitos casos, leva o seu primeiro possuidor ao desespero. Mas não é sobre a ingratidão do dinheiro que quero falar.

Percebi que o governo tem um interesse especial pela disseminação do uso de moedas, que muitas vezes ficam em cofrinhos. E olha que isso, aparentemente, é um gesto um tanto estranho, pois as moedas, guardadas, se desvalorizam com o passar do tempo, mesmo com uma inflação relativamente baixa se a compararmos com o que acontecia na década de 80 e início dos anos 90.

Talvez aqueles que guardam moedas estejam de alguma forma se vingando da volatilidade do dinheiro. Já que as notas muitas vezes entram em nosso bolso em um dia, para encher nosso coração de alegria, e no dia seguinte vai embora e nos deixa desesperados porque ele sequer foi suficiente para pagarmos as nossas dívidas, muitos de nós transformam as moedas em nossas prisioneiras.

Talvez seria uma forma inconsciente de vingança. Mas em vez do governo se preocupar em ver as moedas em circulação, talvez devesse incentivar as pessoas a usá-las como uma forma de "poupança caseira". Para isso, bastaria adotar um padrão diferente. Em vez das moedas serem expressas em valor monetário corrente, deveriam ter um valor fixo, a exemplo do conceito de Unidade Real de Valor (URV) pregada pelo governo Itamar Franco, cujo ministro era o sociólogo Fernando Henrique Cardoso.

Assim, as pessoas poderiam guardar essas moedas cientes de que, em tese, o seu poder de compra daqui a cinco ou dez anos seria basicamente o mesmo. Claro que isso seria uma utopia, mas as vezes é bom a gente sonhar. Afinal, quantos de nós, num passado distante quando era necessário um saco de dinheiro brasileiro para comprar um único dólar americano, sonhou com o dia em que a nossa moeda seria tão forte quanto o dólar? Hoje o que era utopia, em certo sentido, parece tão real que agora já existem vozes discordantes implorando que achemos uma maneira artificial de fazermos o nosso forte real voltar a se desvalorizar.

Puxa, eu sempre sonhei com um país que tivesse orgulho de sua moeda e agora vem os economistas dizerem que isso compromete a nossa balança comercial. Agora pergunte aos americanos: vocês querem que o dólar seja mais fraco do que o real brasileiro? Se eles adotassem o mesmo argumento dos economistas acadêmicos, diriam que sim, pois isso possibilitaria uma expansão de seus negócios. Afinal, quanto mais fraco for o dólar em relação a outras moedas, mais os seus produtos se tornam baratos e os produtos estrangeiros extremamente caros.

Isso, claro, geraria um boom de empregos por lá e obrigaria suas indústrias a produzirem muito mais para dar conta de tantos pedidos. Mesmo assim, por uma questão de orgulho nacional, eles sempre vão preferir que o seu dólar seja uma moeda forte. Então, que nós, brasileiros, percamos esse conceito de inferioridade e deixemos que o próprio mercado regule a nossa moeda. Esse é o momento de termos uma moeda forte? Desfrutemos, pois!

Autoria: Daniel Oliveira da Paixão

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