Crise financeira internacional atinge 63% das MPEs brasileiras

Queda de demanda e crédito mais caro são os principais problemas apontados pelos empresários
A crise financeira internacional atingiu 63% das micro e pequenas empresas brasileiras. De cada 100 MPEs, 63 tiveram ou ainda estão tendo dificuldades para lidar com os reflexos causados pela crise econômica mundial como queda de demanda e crédito mais caro. Estes são os principais resultados da pesquisa “Impacto da Crise Financeira Internacional nas MPEs Brasileiras”, que foi realizada entre março e maio de 2009 com 4.200 micro e pequenas empresas em todo o país pelo Sebrae-SP.

Segundo Ricardo Tortorella, diretor-superintendente do Sebrae-SP, a crise internacional produz efeitos piores para as atividades que dependem de financiamento, caso da indústria e do agronegócio voltado para a exportação. “As atividades que dependem mais da renda do consumidor sentem menos os efeitos da crise como, por exemplo, os setores de comércio e o de serviços. Esta deve ser a tendência para todo o ano de 2009”, afirma.

Entre os impactos sentidos pelos empresários, destacam-se queda de demanda (60%) e taxas de juros (45%), que incluem desde taxas de juros altas (45%) e dificuldade de se conseguir financiamento (40%). “O problema do crédito não é exclusividade de tempos de crise. As micro e pequenas empresas possuem dificuldades de oferecer garantias e apresentar todos os documentos exigidos na hora de recorrer a um financiamento”, explica Tortorella.

O aumento no preço dos importados e a redução dos prazos de pagamento também foram citados pelos empresários (33% e 24%, respectivamente). Por outro lado, apenas 2% dos entrevistados apontaram aumento da inadimplência dos clientes, demissões, queda dos lucros e das exportações como reflexos da crise mundial em seus negócios.

Por região

Por regiões, os donos de empresas do Sudeste e Centro-Oeste disseram ter sido mais atingidos pelos efeitos da crise econômica com 64%. “São regiões com concentração de indústria e de agronegócio voltado para exportação, que sofreram mais com a queda do nível de atividade e do consumo no exterior”, complementa Tortorella.

Por estado, Goiás foi o estado com o maior índice de empresas afetadas: 72% dos empresários foram ou estão sendo atingidos pelos reflexos da crise. Na outra ponta, com menor índice de prejuízo aparece Santa Catarina.

Enquanto a região Sudeste (62%) foi a mais atingida por conta da queda de demanda, no Sul o impacto foi menor (57%). Em compensação, os empresários do Nordeste foram os que mais reclamaram do acesso ao crédito (43%).

Por setor

Por setor, a indústria foi o setor com maior proporção de empresas atingidas pela crise econômica mundial, com 67%, seguida pelo comércio e serviços (66% e 56%, respectivamente). “A crise financeira internacional afetou com mais intensidade as atividades industriais por serem mais dependentes das exportações e dos empréstimos bancários, seja para financiar capital de giro ou para alavancar suas vendas junto ao mercado”, explica Marco Aurélio Bedê, consultor do Sebrae-SP.

Na indústria, os segmentos mais afetados foram os de bens de consumo duráveis (máquinas e aparelhos elétricos) e bens de capital (máquinas e equipamentos). “Em momentos de incerteza econômica, essas indústrias costumam ser as mais atingidas porque estão atreladas a duas variáveis: produto com alto valor unitário e concessão de crédito para vender. É o caso, por exemplo, de uma pequena indústria que produz móveis e que vende uma estante por $ 1.500 (valor unitário alto) por meio de crediário”, ressalta o consultor.

A queda de demanda também foi sentida nas atividades comerciais. “No comércio, além do aspecto do crédito mais caro e difícil, pesou a maior incerteza e o efeito psicológico sobre os consumidores, que reduziram ou postergaram suas compras de longo prazo”, observa Marco Aurélio Bedê.

Expectativa

Mesmo após nove meses do início da crise mundial, 42% dos donos de micro e pequenas empresas afirmam que não houve melhora na oferta de recursos bancários para empréstimos. Outros 30% consideram que a oferta de crédito melhorou, enquanto 28% não soube dizer.

Os empresários do Norte são ao mais pessimistas em relação à melhora na oferta de recursos: 45% afirmam que não houve melhora de oferta de crédito contra 37% da região Sul. Por outro lado, as MPEs do Centro-Oeste sentiram que houve mais recursos disponíveis no mercado (34%).

Para os próximos seis, a maioria dos empresários trabalha com cenário realista, com destaque para a previsão otimista de aumento do faturamento (46% do total). Em relação ao número de funcionários, 67% manterá o quadro atual e apenas 8% pretendem demitir. “A boa notícia é que o Brasil faz parte do mundo globalizado. Além disso, o empreendedor brasileiro é persistente, ousado e disposto a correr risco. Isso tudo pesa muito em momento de crise”, finaliza Tortorella.




Rondônia figura com 58% no
impacto da crise internacional

O diretor superintendente do Sebrae/RO, Pedro Teixeira Chaves, destacou o crescimento econômico em Porto Velho, por conta dos investimentos do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), mas revelou que já conhecia a realidade afirmada na pesquisa feita pelo Sebrae/SP com relação ao impacto da crise financeira internacional no universo das Micro e Pequenas Empresas (MPEs) no Brasil. “Os impactos positivos econômicos estão sendo sentidos aqui em Porto Velho, mas Rondônia tem 52 municípios e boa parte das cidades depende da folha de pagamento das prefeituras ou investimentos em obras públicas e como não há circulação de dinheiro, as empresas de micro e pequeno porte sentem o reflexo” frisou.

Pedro Teixeira também lembrou que com a medida adotada pelo Governo Federal em fazer corte no Fundo de Participação dos Municípios (FPM), prefeituras do interior de Rondônia começaram a ter dificuldades, inclusive em manter a folha de pagamento em dia.

Na visão do superintendente, como o Estado de Rondônia, ainda está em desenvolvimento, o contra-cheque do servidor público e a injeção de recursos por conta das obras públicas são responsáveis pelo aquecimento econômico também das MPEs. “Isso justifica a queda na demanda de ações às MPEs em 58% aqui no Estado nos três setores: Indústria, Comércio e Serviços. É preciso buscar alternativas viáveis para superar a crise”.

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Clarim da Amazônia