PAPUDISKINA - Comentários de Daniel Oliveira da Paixão sobre a política e o cotidiano de Cacoal

Novo tempo em Cacoal?
Entramos em um novo ciclo político administrativo em Cacoal, com a ascensão ao poder de duas pessoas igualmente cristãs, sendo uma delas o padre Franco, e a outra a Dra Raquel. De um lado, um sacerdote católico, muito querido pela população, e de outro, uma evangélica, igualmente querida e respeitada. As esperanças da população são grandes, mas em meio a essa euforia, permita-me fazer algumas considerações, talvez um tanto duras, mas não façam qualquer pre-julgamento antes de lerem a última palavra. Digo isto porque muitas vezes vemos algumas pessoas apressadas que lêem apenas o título daquilo que escrevo e já destilam seus venenos contra mim. Saibam, antes de mais nada, que nesses exatos 24 anos em que atuo como jornalista aprendi muito sobre a profissão, mas principalmente sobre a conduta humana quando frente ao poder terreno. Então, observem, com atenção, a nota a seguir.

Culto à personalidade e demonização aos "outros"
Tudo bem que temos gente nova fazendo parte da administração pública, mas é necessário que não entremos na onda daqueles que pregam culto à personalidade e santificam a qualquer um que assume agora algum cargo, ao mesmo tempo em que demonizam a todos os que, de alguma forma, fizeram parte da administração anterior. Não é porque o cidadão fez parte da administração anterior que devemos considerá-lo bandido da pior espécie e igualmente cuidemos para não considerar todo aquele que acaba de entrar como sendo uma pessoa acima de qualquer suspeita. Minha experiência de 44 anos de vida e 24 como jornalista atento e perspicaz me ensinou que os homens públicos são, antes de mais nada, seres humanos, independentemente de que partido estejam militando. Os seres humanos são todos igualmente sujeitos a falhas. A diferença é que uns erram na tentativa de acertar e outros erram deliberadamente e nem sentem remorso. Então, para simplificar as coisas: teve gente decente fazendo parte da administração anterior - não nos esqueçamos disso - assim como teremos ótimos gestores públicos na atual administração. Mas igualmente como tivemos pessoas que frustraram as expectativas da população na gestão anterior também teremos gente assim no atual governo. Aliás, as frustrações nessa atual administração tendem a ser muito maior, pois o prefeito é uma pessoa cristã, um padre respeitado, e muita gente acha que ele é como se fosse o próprio Deus, capaz de acertar 100% ao nomear alguém para ocupar um cargo. Por mais que confiemos no discernimento e no caráter excepcional do padre, devemos ter a consciência de que ele também é ser humano e está sujeito a avaliar mal a algum de seus colaborares nomeados. Ou seja, ele pode, na boa fé, ter escolhido alguém a quem julgue leal, competente, irrepreensível, mas com o decorrer do tempo poderá perceber que fez uma má escolha. Claro que como cidadão estou torcendo que todas as escolhas do Padre Franco estejam 100% corretas. Mas o fato de torcermos não quer dizer que devamos de forma irresponsável fecharmos os olhos a certas verdades.

De quem foi a escolha dos ocupantes do primeiro e segundo escalão?

Eu disse acima que  apesar de todos os esforços em escolher as pessoas certas para compor sua administração o Padre Franco pode, eventualmente, não ter acertado 100%, mas devo aqui esclarecer ainda que apenas uma pequena minoria dos escolhidos realmente tiveram a chancela do novo chefe de governo municipal. Muitas nomeações, mas muitas mesmo, foram frutos de decisões partidárias, sejam elas do PT, do PMDB, do PDT e de outras siglas que integraram a coalizão vencedora. Então, amigos, aqueles que são, como eu, fervorosos idealistas de partidos de esquerda, poderão se decepcionar com o resultado dessa complexidade política resultante das alianças. Eu sou um grande fã do presidente Lula e admiro muito o seu jeito humano de governar, mas o seu governo pecou, em muitos aspectos, por permitir alianças estranhas com lideranças ao longo do tempo tão criticadas pelo próprio PT.  Então, assim como em nível nacional o PT teve de contrariar o seu próprio discurso e aceitar no governo gente no mínimo pouco confiável como José Sarney, Renan Calheiros, Leonardo Quintão, Severino "Malandrino" e tantos outros, aqui em nossa cidade não só os partidos aliados vão querer impor suas vontades, como até mesmo partidos que fizeram parte de outros grupos. Em qualquer município do país uma boa ou má gestão depende muito do caráter e do nível dos membros eleitos para o parlamento. Se tivermos vereadores decentes, comprometidos com a causa pública, certamente as chances do prefeito realizar uma boa administração serão muito grandes. Agora se entre os vereadores o que falar mais alto for o fisiologismo, a chantagens e "mau-caratismo", então a probabilidade de uma má gestão aumenta consideravelmente. Mas como pedi que não fizessem mal julgamento de minhas análises, esclareço aqui que estou muito confiante de que pelo menos a maioria dos vereadores eleitos realmente seja composta de gente boa, decente, íntegra. E é por isso que eu também estou muito confiante de que o padre Franco e a Dra Raquel vão atender, pelo menos em parte, a grande expectativa e anseios de nossa população.

Problemas no SAAE
O Serviço Autônomo de Água e Esgotos de Cacoal enfrentou um duro golpe nesses primeiros dias de 2009, com o rompimento de sua rede condutora de água ao centro de captação e distribuição. Além de causar transtorno à população, esses problemas vão gerar uma arrecadação a menor neste mês de janeiro. Em alguns bairros, a população ficou praticamente uma semana sem receber água. Quem tem hidrômetro, certamente vai consumir menos e portanto pagar menos ao final do mês. Já os moradores de bairros mais distantes que não têm hidrômetro também vão pagar menos porque, por justiça, têm direito ao abatimento de pelo menos cinco dias em que não receberam a água em suas casas. Enfim, a falta de investimentos sérios no SAAE em anos anteriores levaram a autarquia a esse estrangulamento. Não cabe a mim julgar os gestores anteriores porque, pelo menos aparentemente, víamos seus esforços em dotar o SAAE de alguma estrutura. Mas, enfim, a verdade nua e crua é que não fizeram o bastante. Para alguns, esses problemas ocorridos no início do ano foram decorrentes de força da natureza, alheios à vontade humana, fruto do imponderável. Mas conscientemente devemos observar que se tivéssemos uma estrutura um pouco melhor essas enchentes não seriam suficientes para causar os danos que causaram.

Eli Batista
A competente Eli Batista manteve-se na Assessoria de Imprensa de Cacoal e temos certeza de vai lutar para obter o respaldo que não obteve na gestão anterior. Não quero aqui culpar ninguém, mas apenas dizer o que observei nos meses em que fiz parte de sua equipe. Faltava-nos o essencial como meios de locomoção e comunicação, suporte à edição de fotos, imagens e textos, além da excessiva e brutal ingerência do departamento de TI da prefeitura que fez de tudo para destruir a capacidade produtiva dos jornalistas. A verdade é que o departamento de TI, não sei se deliberadamente ou por incompetência, atrapalhou e muito as ações dos profissionais de imprensa. Todo mundo que tem bom senso sabe que jornalista precisa ter acesso fácil aos meios de comunicação para poder desempenhar bem o seu trabalho, mas o departamento de TI muitas vezes, de forma autoritária e anti-constitucional, bloqueava serviços essenciais como emails, sites de notícias, sites educacionais, impedindo a qualquer membro da imprensa o acesso ao conhecimento. Houve até casos em que o responsável pela atualização do site oficial da prefeitura sofria bloqueios ao tentar entrar em sites com dicas importantes sobre informática, como o caderno da Folha de S. Paulo. Isso nos dá a exata noção do que estava acontecendo: o pessoal de TI da prefeitura não apenas não compartilha o que sabe com o resto dos servidores, como também obsta até o acesso externo ao conhecimento. Eu entendo que qualquer chefe de administração pública decente sabe que conhecimento é essencial e impedir que os servidores ampliem sua bagagem cultural em favor da própria administração pública é, no mínimo, um ato contraditório. Azar deles é que muitas pessoas têm a capacidade de aprenderem como autodidatas. Eu mesmo sou um exemplo vivo disso, pois desde criança sempre me ocupei de estudar em casa e mesmo sem cursar escolhas de idiomas hoje sou razoavelmente fluente em inglês e espanhol, além de ter bons conhecimentos de alemão, hebraico, guarani, francês e italiano.

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Clarim da Amazônia