Índia paresi é morta a tiros em Mato Grosso

CUIABÁ, MT – Nem bem começou o ano e a perseguição e morte aos povos indígenas continua. Na noite de sexta-feira, 9, por volta das 22h, a líder indígena paresi Valmireide Zoromará, 42 anos, foi assassinada a tiros perto de Nova Marilândia, região de Diamantino 209 quilômetros ao médio norte de Cuiabá. Ela pescava junto com outras 13 pessoas, todas da família. Seu marido, Valdenir Xavier de Amorim está em estado grave, na UTI de num hospital de Tangará da Serra.

Valmireide, a primeira vítima indígena em 2009 /SINA
Segundo seus filhos Kleberson e Kelly Cristina Zoromará, eles estavam pescando em uma represa particular do córrego Cágado, pertecente a Sebastião de Assis, quando foram alvejados por um funcionário da fazenda que gritava: “Seus ladrões de peixes”. Todos saíram correndo e se esconderam, mas Valdenir e Valmireide foram atingidos. "Quando retornamos ao local, nossa mãe estava morta e meu pai suspirando", disseram os filhos.

Inquérito federal
Para o técnico de indigenismo da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Tangará da Serra, Martins Toledo de Melo, não há vestígios na área de criação de peixes e a polícia civil já iniciou o inquérito. Por se tratar de questão federal, a Funai, o Ministério Público Federal e a Polícia Federal deverão assumir o caso.

O fazendeiro Sebastião de Assis, junto com outras pessoas, ficaram reféns na aldeia paresi em janeiro de 1992, por invasão, mas segundo Martins esse fato não deve ter correlação com o crime. Perguntado sobre o clima na aldeia, o técnico disse que “normalmente, quando um paresi sofre morte natural, isso por si só gera comoção na comunidade, agora, imagine quando se é assassinado por um não-índio".

Demarcação
 A área em que se encontram as famílias foi doada ao grupo Zoromará na época pelo marechal Cândido Rondon, e a demarcação da reserva está em fase estudos, devendo ser homologada ainda este ano, segundo o indigenista. Os paresi têm no seu mito de origem a representação da sua identidade e da sua territorialidade.

Na audiência pública promovida para o debate do Zoneamento Socioecônomico e Ecológico de Mato Grosso, Kelly Zoromará disse que sua mãe retirou-os da aldeia, levando para Nova Marilândia, porque eram ameaçados de morte, mas que “agora iriam lutar pela terra e só sairiam de lá mortos”. As palavras de Kelly anteviram a noite fatídica de 9 de janeiro de 2009. Num exame preliminar de necrópsia foram encontrados chumbos de calibre 16. A guerreira Valmireide, que atuava principalmente na defesa de sua terra se foi. Que não seja em vão.

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Clarim da Amazônia