Para governador, qualquer decisão sobre Raposa criará conflito

O governador de Roraima, José de Anchieta Júnior (PSDB), disse nesta segunda-feira que haverá conflito em seu Estado seja qual for a decisão do STF sobre a homologação contínua da Terra Indígena de Raposa Serra do Sol, cujo julgamento está previsto para quarta-feira.
Contrário à da demarcação contínua da área, o governador disse que há um clima "tenso" no Estado e alega que a maioria das comunidades indígenas não concorda com a demarcação em área contínua, mas sim em "ilhas", em que parte das áreas da reserva seria exclusiva de indígenas e outra parte ficaria sob o controle do governo federal, especialmente as estradas e redes elétricas.

- Seja qual for o resultado, deve haver conflito (entre índios) - acrescentou o governador, referindo-se ao julgamento.

Segundo Anchieta Júnior, os índios temem ficar isolados, já que se a decisão Supremo Tribunal Federal (STF) for a favor da demarcação contínua "vai se criar um zoológico humano sem a possibilidade de o Estado continuar ajudando essa integração".

O ministro da Justiça, Tarso Genro, no entanto, afastou a possibilidade de conflito levantada pelo governador.

- Da nossa parte não vai ter conflito, seja qual for a decisão do Supremo - disse o ministro.

O governo federal já homologou a demarcação da reserva, mas uma ação apresentada pelos senadores Augusto Botelho (PT-RR) e Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR) contesta a decisão e propõe a demarcação do território em ilhas. Cerca de 19 mil índios de cinco etnias vivem em 194 comunidades na região.

O ministro Tarso Genro disse ainda que o governo crê no julgamento pela continuidade das terras, mas acrescentou que "seja qual for a decisão (do STF) nós vamos cumpri-la e conosco não vai haver nenhum tipo de conflito".

O território, de 1,7 milhão de hectares e localizado no Estado de Roraima na fronteira do Brasil com a Venezuela e Guiana, é objeto de disputa entre as comunidades indígenas e os produtores rurais da região. A demarcação contínua também recebe críticas, por ser uma área de fronteira, o que colocaria em risco a soberania do país.

- Nós não somos contra a presença dos índios. Somos contra a retirada dos não-índios - disse o governador a jornalistas em Brasília.

- Quanto mais brasileiros na fronteira, melhor para nossa soberania. Nós lutamos pela vivificação das nossas fronteiras - acrescentou.

Os produtores da região, principalmente plantadores de arroz, que correm o risco de expulsão da área, argumentam que o laudo antropológico da Fundação Nacional do Índio (Funai), órgão subordinado ao Ministério da Justiça, é falho ao sustentar que o território Raposa Serra do Sol era historicamente uma terra indígena.

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Clarim da Amazônia