Assédio moral nas faculdades: ou se submete ao desrespeito ou fica reprovado

Assédio moral nas faculdades: ou se submete ao desrespeito ou fica reprovado
* Paulo Ayres A ocorrência de assédio moral em instituições de ensino é grave e transcende o aspecto pedagógico, acabando por envolver as áreas do direito e da saúde. A vítima do assédio moral além de ter sua formação comprometida, ainda sofre com as demais conseqüências: queda da auto-estima; depressão; angústia; crises de choro; mal-estar físico e mental; cansaço exagerado; estresse; insônia; pesadelos; isolamento; tristeza; uso de álcool e drogas; tentativa de suicídio; diminuição da capacidade de concentração ou memorização; aumento de peso ou emagrecimento; aumento da pressão arterial; se acometido – agravamento de moléstias; surgimento de novas doenças; e sensação negativa em relação ao futuro.

O artigo que tornou público o lamentável crime do assédio moral nas escolas e faculdades no Estado de Rondônia repercutiu. Mas muitos ao invés de aproveitar o tema para uma profunda reflexão, optaram em tentar se insurgir contra o autor do artigo ou simplesmente "santificaram" todos os professores. Alguns tiveram dificuldades de interpretação de leitura e partiram para o ataque, afirmando que teria havido generalizações. É bom lembrar que em todas as categorias ou ramo de atividades, existem os que se conduzem de forma ética e profissional e àqueles que optam pelo desvio de conduta. Negar a ocorrência de assédio moral nas escolas e faculdades é também contribuir positivamente, lamentavelmente, para esta prática criminosa.

O assedio moral é toda e qualquer conduta que pode se dar através de palavras ou mesmo de gestos ou atitudes, que traz dano à personalidade, dignidade ou integridade física ou psíquica de uma pessoa. Em determinada faculdade existe uma certa mobilização para que os alunos contestem este tipo de ocorrência. Abafar o caso. Num clima de terror constante, será que haverá algum acadêmico disposto a correr riscos? Faz-se mister salientar que os picaretas do magistério superior sobrevivem (apesar de reduzidos) graças a omissão, prevaricação ou negligência da instituição. O medo de represálias, ou de manutenção no emprego (no caso das faculdades particulares) acabam instituindo a Lei do Silêncio.

O "choro" de uma ex-acadêmica vítima de assédio moral enfatiza muito bem este aspecto: "Chegaram inclusive dizer para mim na frente das colegas de sala que eu jamais iria passar em um concurso porque o ensino nas faculdades particulares é precário. Mesmo tendo saído daquele inferno algumas professoras ainda comentam em sala que eu vou acabar desistindo por ser carente e seguramente não terei recursos para concluir os estudos. Me formo no final do ano e hoje agradeço por ter saído daquele lugar, pois assim estou tendo paz.

Só quem estuda lá pode saber algo que ninguém de fora consegue imaginar. Mas as pessoas que estavam sabendo de toda minha historia se recusaram a depor a meu favor, tem medo e dizem não poder sair de lá e agüentam tudo calados. Eu tenho minha cabeça erguida, pois nunca deixei que me humilhassem.

Só resolvi contar esta história porque elas podem tentar pedir explicação pra você (o autor do artigo) e tentar dizer que isso não é verdade". Outro depoimento: "Sou ex-aluna e desisti da faculdade por perseguição severa. Nunca gostei de ser humilhada, quem gosta né? Mas nunca admitir que ninguém me desmerecesse, tanto que lá nunca admiti isso. Por isso a raiva que elas começaram a sentir de minha pessoa. Incentivava os alunos a lutarem pelos direitos, uma coisa te digo, esses alunos do Curso de Enfermagem se acovardam diante delas. Tem medo de nunca conseguir se formar. Realmente temos historias de alunos que demoraram 10 anos, jubilaram e não se formaram por pura perseguição".

A situação é grave e merece mesmo uma profunda avaliação não no sentido de se declarar uma "caça as bruxas", mas de mudança de atitude, confiram este depoimento: "Sou acadêmica e confirmo o assedio moral sofrido dentro da faculdade. Este fato lamentavelmente é freqüente. É comum sabermos de acadêmicos que são humilhados durante os estágios. Já fui assediada sexualmente. É muito comum os alunos serem coagidos com ameaças para que esses assédios não venham a publico". O mundo não é um local perigoso de se viver só por causa daqueles que fazem o mal, mas também por culpa daqueles que deixam o mal acontecer.

Para os futuros profissionais um recado: o "pecado" da omissão é muito grave, e poderá repercutir negativamente no decorrer de suas atividades profissionais. Como encarar, por exemplo, aquela colega outrora animada na busca de conhecimentos e de uma profissão e hoje agonizar numa cama, tentando superar constantes crises depressivas? É difícil sobreviver num clima de repressão, de desrespeito, de transgressão constante. Gritos, palavras ou posturas agressivas e de rigidez não se traduzem em cuidado dos mestres para que seus atuais alunos não venham a cometer erros no futuro. Muito pelo contrário, esses futuros profissionais devem ser permanentemente orientados que mesmo em situações adversas tenham sempre uma conduta de respeito, de solidariedade e de profissionalismo.

A situação é preocupante, pois uma só pessoa pode "assassinar" várias pessoas ao mesmo tempo. É claro que neste tipo de ocorrência deve ser levada em consideração que o problema consiste em duas vertentes: a ação de profissionais picaretas e a ação de profissionais que efetivamente se encontram doentes, debilitados. O assédio moral deve ser considerado o lado obscuro no sistema de ensino. O objetivo do assediador no sistema educacional é motivar a sua vítima a pedir transferência, abandonar o curso, prejudicar enquanto pessoa, ou buscar através desta forma criminosa de pressão, obter outros tipos de vantagens, inclusive no tocante a relacionamento sexual.

Veja alguns exemplos de prática de assédio moral: "recusa de comunicação direta; isolamento do aluno; impedimento de expressão; reprovação injustificada; imposição de condições exageradas de avaliações; delegação de tarefas impossíveis de serem cumpridas, ou que normalmente são desprezadas pelos outros; determinação de prazo desnecessariamente exíguo; não repasse de atividade; fragilização, ridicularização, inferiorização, ou humilhação pública ou não do aluno/aluna; manipulação de informações de forma a não serem repassadas com antecedência necessária; estabelecimento de vigilância específica sobre determinado aluno/aluna; comentários de mau gosto, quando da ausência do aluno/aluna; e divulgação de boatos em sala de aula. Em alguns casos de assédio moral no mundo acadêmico tem se verificado a partir das tais improvisações do magistério superior. Um excelente e destacado profissional no mundo dos negócios, não se traduzirá rigorosamente num regular professor. A falta deste preparo pedagógico tem de certa forma acarretado inúmeros dissabores. Tem professor e professora em faculdade particular, mandando alunos calar a boca. O assédio é explícito em plena sala de aula: "E aí gatinha estou aqui para te salvar, liga pra mim...".

O asseio moral é uma agressão difícil de se provar. As testemunhas (em grande parte alunos/alunas se relacionam diariamente com o assediador ou assediadora) e acabam não querendo interferir, porque obviamente temem represálias eventuais. Assim sendo, o ônus da prova incumbe a quem alega ser vítima. Desta forma ao se instalar este tipo de ocorrência a vítima deve ir colhendo provas, anotando citações, data e local e pessoas presentes; guardar bilhetes, mensagens, avaliações e trabalhos; pedir um comparativo em relação ao trabalho apresentado pelos demais colegas; solicitar por escrito o que está sendo avaliado nas questões subjetivas, e na medida do possível se relacionar com o assediador sempre em local público e preferencialmente com pessoas estranhas ao ambiente.

É importante ainda que a família da vítima esteja sendo permanente informada destas situações, até mesmo como forma de apoio e orientação. Informo aos (as) denunciantes que por força do Código de Ética do Jornalista toda fonte está preservada ao anonimato, inclusiva por dispositivo constitucional. Na Paz de Cristo!

Paulo Ayres: Especialista em Metodologia e Didática do Ensino Superior, Jornalista Profissional, Radialista Profissional, Professor, Tecnólogo em Gestão de Recursos Humanos e Acadêmico de Comunicação Social. Celular (69) 8116-9750 / E-mail: pauloayres@ibest.com.br

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