O governo Lula não está no piloto automático como insinuam os tucanos

DANIEL OLIVEIRA DA PAIXÃO

Nesta segunda-feira pude acompanhar boa parte do programa Roda-Viva, da TV Brasil, em que o entrevistado foi o senador eleito por São Paulo, Aloísio Nunes (PSDB) e confesso que me surpreendi com a sua habilidade e inteligência, mas o interessante foi notar que, a exemplo de Serra, ele insiste na tese de que o único mérito do Lula foi manter - no dizer dele na totalidade - o programa socioeconômico de FHC.

É óbvio que Lula foi inteligente o bastante para não mexer nos pilares básicos daquilo que era chamado na época de macroeconomia. Até porque era necessário por fim a anos de estagnação provocada pelo desastre que foi o governo Sarney, na década de 80 e de Fernando Collor, no início da década de 90.

Mas por favor, sejamos coerentes: o Lula conseguiu o milagre que nenhum outro governante conseguiu nos últimos 50 anos: reduzir a pobreza sem cortar privilégios das camadas mais ricas da sociedade. FHC criou o Plano Real, é verdade, mas não soube como tirar proveito da estabilidade econômica para distribuir os frutos dessa conquista com a população mais pobre.

Lula enxergou um fato ignorado por políticos anteriores: concentração de renda nas mãos de poucos acaba por sufocar e estrangular a economia. No Brasil de FHC a riqueza estava limitada a um grupo tão pequeno de multi-milionários que a economia não conseguia fluir. O comércio só pode fluir quando existe liquidez e gente para comprar. Esse foi o pulo do gato do Lula: mais gente em condições de consumir permitiu um "boom" de consumo no país e o milagre de não afetar aqueles que já estavam inseridos no mercado de consumo.

Ora, senhores, não vamos negar nem relegar a importância do FHC para o início da estabilidade econômica do país, mas também não podemos ser injustos com o atual presidente. Eu concordo que há muita coisa para ser feita e uma delas, mal resolvida nesse governo, foi a questão da corrupção. Mas também não podemos aceitar a tese do pessoal do PSDB que insiste em insinuar que no Governo Lula o Brasil esteve no piloto automático e o trem do progresso manteve-se no rumo graças à programação do FHC.

O que o Lula não conseguiu - e isso sim é lamentável - foi debelar a corrupção. Agora o futuro governo, seja Dilma ou seja Serra, vai ter de lidar com um problema muito maior que é preparar o país para aprender a lidar com a estabilidade. Já tivemos a oportunidade de nos inserirmos como potência mundialmente reconhecida na década de 70, mas retrocedemos na década de 80 à condição de país de "terceiro-mundo".

Por isso o desafio do futuro presidente é enorme. Sem investimentos em educação, infra-estrutura e tecnologia, estaremos condenados ao fracasso mais uma vez. Uma economia não se sustenta apenas pelo vigor do agro-negócio ou pelos preços das commodities. Precisamos de infra-estrutura (estradas, ferrovias, portos e aeroportos), mão de obra qualificada (centros tecnológicos, boas escolas técnicas e universidades capazes de produzir bons cientistas nas mais variadas áreas do conhecimento humano) e finalmente um povo com o mínimo de conhecimento para evitarmos esse "caldo de cultura" propício à proliferação de políticos corruptos que, como cupins, agem sorrateiramente e corroem as estruturas desse grande edifício chamado Brasil.

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Clarim da Amazônia