Papudiskina - Edição de 21 de janeiro de 2010

Daniel Oliveira da Paixão

Horário corrido
Volto ao assunto porque servidores públicos pedem minha opinião o tempo todo sobre o que eu acho do fim do horário corrido na Prefeitura de Cacoal. Eu acho uma pena que a cidade esteja regredindo enquanto outras cidades estão evoluindo e oficializando o Horário Corrido como elemento básico. Eu sei que 90% de quem não é servidor público, talvez por um instinto de vingança sem avaliar os fatos com isenção, aprovam a ideia do serviço público funcionar, se possível, 24 horas. Há, em certo sentido, a ideia errônea de que servidor público ganha muito bem e por isso existe até certa inveja de quem trabalha em órgão público. Só que, salvo raríssimas exceções, o serviço público é mera ilusão. A maioria dos servidores públicos só tem a seu favor o que chamam de “estabilidade”. Mas em compensação recebe os piores salários.
O horário corrido provou ser eficiente e gera menos ônus para o erário público. Como o serviço público estadual funciona em horário corrido e os bancos fecham até as 14 horas, o horário duplo serve apenas para gerar mais despesas. Via de regra, quem vai a uma secretaria municipal ou mesmo à prefeitura à tarde vai para bater papo e quase nunca para resolver problemas burocráticos.
Eu penso que em Cacoal o fim do horário corrido atende apenas a um capricho do atual staff político. Mas está na hora dos atuais gestores pararem de agir como meninos emburrados. A gente entende os meninos e os adolescentes, mas não dá para aceitar que homens feitos, já em condições de ter um espírito crítico acurado, vivam pirraçando o tempo todo. O horário corrido vai por fim a gastos desnecessários. Vejam, por exemplo, o caso do SAAE. Como os bancos fecham as 13 horas (em horário de verão), à tarde vai apenas uma meia dúzia de clientes. Só que para atender esses clientes, gasta-se mais com ar-condicionado ligado, lâmpadas acesas e outras despesas que poderiam ser economizadas. Qualquer um cidadão provido apenas da emoção e do revanchismo contra os servidores públicos aprova a ideia de o SAAE ficar aberto, se possível, o dia todo e mais um pouco. Mas um cidadão que pense no bem comum saberia que é muito fácil remanejar essa meia dúzia para ser atendida também pela manhã e com isso por fim a essa prática sem sentido e desconexa da realidade funcional.
Gente, o serviço público deve ser regido em condições especiais e não obedecendo a regra da iniciativa privada. Não há conexão entre uma coisa e outra. A iniciativa pública visa o bem comum e nunca o lucro. Já a iniciativa privada visa o lucro. A única maneira de se organizar e harmonizar os horários de atendimento ao público em todo o país seria o Congresso Nacional criar uma lei, em nível nacional, oficializando o horário corrido, resguardando-se apenas os plantões em serviços essenciais como saúde, educação, etc, para se evitar que prefeitos populistas mudem a regra do jogo quando bem entendem e alteram o status quo sem ao menos ouvir os servidores públicos que também votaram neles.
Mas os deputados e senadores não vão se interessar por isso se a classe trabalhadora no serviço público não se mobilizar. Eu prometo fazer a minha parte, mas andorinhas sozinhas não fazem verão. V ou, contudo, fazer como aquele colibri que mesmo sem muito que fazer, leva um pouco de água em seu bico na tentativa de conter o fogo que se alastra pela floresta.

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Clarim da Amazônia